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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Cristo, Axé e Maomé

No quarto século da nossa era, Agostinho de Hipona escreveu mais ou menos assim: "Ser humilde com quem é arrogante, firme com quem é pusilânime, doce com quem é amargo, decidido com os indecisos, manso com os irados, sereno com os agitados, equilibrado com os angustiados e, ai de mim, amar a todos". Agostinho continua sendo um baluarte da fraternidade. Guimarães Rosa disse que há o mundo do rio e o mundo da ponte. Construo pontes. Não de madeira, concreto ou aço, mas de sonhos. Material eterno e mais nobre.

Na primeira sexta-feira de julho, na missa da Igreja de São Lázaro entraram pessoas ligadas ao candomblé. Duas delas jovens, com roupas novas imaculadamente brancas e limpíssimas. Chegaram silenciosas, pacíficas e humildes e se colocaram de frente para o altar, em posição de prece maometana. Cristo, Axé e Maomé. O clima estava bom e ficou melhor. O silêncio ficou rico, lembrando um verso da minha juventude: "O silêncio infinito do grito de Deus". Passados alguns minutos, saíram tão ungidamente quanto tinham entrado.

O Dalai Lama disse que religião é para unir pessoas, colocá-las em comunhão; caso contrário, não merece este nome. Guerras ditas religiosas, cristãs, islâmicas, judaicas, tribais ou quaisquer outras são expressões do oposto. A religião deve ocupar-se com o Bem, e não com "os bens", como fazem tantas imposturas por aí.

Mudando de assunto no gancho do axé, que significa algo como "graça", o contrário de "desgraça", se não me engano em iorubá, a dívida que a cultura moderna da Bahia tem para com a chamada "axé music" é inestimável. Incluo no pacote a linha afro e a linha, digamos, branca, que de branco mesmo tem pouco.

Entre os muitos benefícios, cito o desenvolvimento da percussão em uma infinidade de levadas diferentes, ricas e criativas, que têm impressionado o mundo, a criação de um imenso campo de trabalho internacional para jovens que, de outro modo, dificilmente teriam uma ocupação decente, a elevação do nível técnico e artístico de uma grande quantidade de músicos (guitarristas, arranjadores, baixistas, tecladistas, saxofonistas, trompetistas, trombonistas e outros), habilitando-os profissionalmente e possibilitando-lhes a aquisição de instrumentos e equipamentos periféricos "de ponta", o que acaba beneficiando o meio musical como um todo.

Percussionistas e outros músicos do chamado "axé" têm atuado como multiplicadores em muitas escolas, centros comunitários, grupos paralelos, estúdios de ensaio e gravação, etc. De outro lado, o núcleo de orquestras juvenis e infantis do Teatro Castro Alves, também com um trabalho brilhante na formação de músicos, via outra linguagem não menos importante, embora mais impopular ainda. Tudo isso com muitas ligações diretas e indiretas com a grande mãe, a Escola de Música da Universidade Federal da Bahia.

FONTE: Jornal A TARDE

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