VENHA JOGAR BUZIOS

VENHA JOGAR BUZIOS
CONSULTE COM "O CATIÇO" SEU TRANCA RUA. Estamos no bairro Floresta em Belo Horizonte- M.G.

terça-feira, 31 de julho de 2018

A Importância da Cabaça no Candomblé

A Importância da Cabaça no Candomblé
A cabaça é um fruto vegetal com larga utilização no Candomblé . É o fruto da cabaceira. Inteira, é denominada cabaça; cortada, é cuia ou coité; e as maiorias são denominadas cumbucas.
Nos ritos do Candomblé, sua utilização é ampla, tomando nomes diferentes de acordo com o seu uso, ou pela forma como é cortada. A cabaça inteira é denominada Àkèrègbè , e a cortada em forma de cuia toma o nome de Ìgbá .
Cortada em forma de prato é o Ìgbáje , ou seja, o recipiente para a comida. Cortada acima do meio, forma uma vasilha com tampa, tomando o nome de Ìgbase , ou cuia do Àse , e é utilizada para colocar os símbolos do poder após a obrigação de sete anos de uma Ìyàwó , como a tesoura, navalha, búzios, contas, folhas, etc. que permitirão à pessoa ter o seu próprio Candomblé.
Cabaças minúsculas são colocadas no Sàsàrà de Omolu , como depósito de seus remédios.
No Ógó de Èsù , uma representação do falo masculino, as cabaças representam os testículos. Usa-se uma das partes da cabaça cortada ao meio, e colocada na cabeça das pessoas a serem iniciadas e que não podem ser raspadas por serem Àbìkú , para nela serem feitas as obrigações necessárias.
Com o corte ao comprido, torna-se uma vasilha com um cabo, chamada de cuia do Ìpàdé e serve para colher o material de oferecimento ou para colher as águas do banho de folhas maceradas. Inteira e revestida de uma rede de malha será o Agbè , instrumento musical usado pelos Ogans , durante os toques e cânticos.
Uma cabaça com o pescoço comprido em forma de chocalho é agitada com as suas sementes, fazendo assim o som do Séré , forma reduzida de Sèkèrè, instrumento por excelência de Sàngó . 
A cabaça inteira em tamanho grande substitui nos ritos de Àsèsè , a cabeça de uma pessoa que morreu e que por alguns fatores não é possível realizar as obrigações de tirar o Òsu . 
Por fim, pode ser lembrado que a cabaça cortada em forma de vasilha com tampa é conhecida como Ìgbádù , a cabaça da existência e contém os símbolos dos quatro principais Odù : Éjì, Ogbè, Òyekú Méjì, Ìwòri Méjì e Òdí Méjì.
Por: Asé Oyá Bò Mi.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Ìwà Pele (O Bom Caráter) - Lenda

Ìwà Pele (O Bom Caráter) - Lenda
A importância dada ao bom caráter (Ìwà Pele)
Ìwà é o que caracteriza uma pessoa sob o ponto de vista ético. Para ser feliz uma pessoa deve ter ìwà pele, pois quem tem bom caráter não entra em choque com os seres humanos nem com os poderes sobrenaturais. Esse é o mais importante dos valores morais yorubá, e a essência da fé consiste em cultivá-lo.
A lenda de Ìwà é relatada na literatura de Ifá:
Ìwà era uma mulher de rara beleza com quem Orúnmílà se casou, após ela ter se separado de diversos outros deuses.
Apesar de sua beleza, Ìwà tinha maus costumes e falava demais, sendo ainda preguiçosa e irresponsável.
Depois de algum tempo de casados, Orúnmílà, não podendo suportar o mau comportamento de sua esposa, mandou-a embora.
Entretanto, quando Ìwà partiu, Orúnmílà percebeu que não podia viver sem ela. Perdeu o respeito dos vizinhos, sua prática divinatória perdeu o valor, seus clientes se afastaram, ficou sem dinheiro, enfim perdeu tudo e foi desprezado por todos.
Tentando achar uma solução, vestiu-se de Egúngún e saiu por aí, à procura de Ìwà. Foi à casa dos 16 Odus de Ifá à procura da esposa, cantando na porta de cada um:
“Grande Sacerdote de Ifá de Ajeró,
Adivinho de Ajeró,
Onde você vir Ìwà, diga-me.
É Ìwà, Ìwà que estou procurando.
Se você tem dinheiro, mas não tem Ìwà,
O dinheiro não é seu;
Ìwà é a pessoa que eu procuro.
Se alguém tem filhos, mas não tem Ìwà,
As crianças pertencem a outra pessoa;
Ìwà, Ìwà é quem nós procuramos...
Se temos uma casa, mas não temos Ìwà,
A casa não é nossa, é de outra pessoa.
Ìwà, Ìwà é o que procuramos.
Se você tem roupas, mas tem falta de Ìwà,
As roupas pertencem a outra pessoa.
Ìwà, Ìwà é o que procuramos.
Todas as boas coisas da vida que um homem possui,
Se ele perder Ìwà, elas passam a pertencer a outra pessoa.
Ìwà, é o que estamos à procura!”
(Ogbon inú, awo Alárá;
Dífá fún Alárá, Èjí Osá,
Omo Amúrin kàn dogbon agogo.
Ìmoràn, awo Ajerò, Difá fun Ajerò,
Omo ògbójú koroo jà jále.
Níbo ló gbé ríwà fún un o,
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Ó nó bó o lówó, tóò níwà,
Owo olówó ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Omo la bí,
Tá à níwà, Omo olomo ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Bá a nílé, tá à níwà,
Ilé omílé ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Bá a láso,tá à níwà
Aso, aláso ni.
Ìwà, Ìwà là n'wá o, Ìwà.
Ire gbogbo tá a ni,Tá à níwà.)
Depois de grande procura Orúnmílà achou Ìwà casada com Olójo. Quando cantou na porta de Olójo, este foi à porta recebê-lo e recusou-se a devolvê-la. Então eles começaram a brigar. Orúnmilá bateu em Olójo com a perna de uma cabra que havia sacrificado antes de sair de casa. O impacto atirou Olójo a muitas milhas de distância, e Ìwà foi levada de volta para sua casa.
Ao analisar a lenda vemos as várias razões da importância dada a Ìwà. Primeiro é importante que o bom caráter seja simbolizado por uma mulher. No folclore yorubá as mulheres representam os dois extremos - amor, cuidado, devoção e beleza versus fraqueza, deslealdade e falsidade. Só as mulheres podem simbolizar essa dualidade, de acordo com o conceito yorubá.
A lenda mostra ainda que o homem deve cuidar de seu caráter tão bem como cuida de sua esposa. Da mesma forma que manter a esposa é obrigação do marido, o bom caráter deve ser uma obrigação para os que têm fé e querem viver de forma correta.
As mulheres são consideradas bruxas e podem até ser mentirosas, mas os yorubá crêem que a sociedade não pode sobreviver sem elas. Da mesma forma, pode ser difícil ter bom caráter, mas não se pode ser feliz sem ele.
Ìwà foi uma mulher que perdeu os bons hábitos. Significa que o homem que quer ter bom caráter deve estar preparado para encarar egbin - coisa suja - e passar por algumas situações desagradáveis, que podem ofender sua dignidade e decência. Mesmo assim não deve se desviar do bom caminho, para não perder a essência e o valor de sua vida.
Os versos equiparam Ìwà aos bens materiais que os homens almejam: dinheiro, filhos, casa e roupas. Um homem que tem bens materiais, mas não tem caráter, provavelmente irá perder tudo para uma pessoa de caráter, que saberá melhor tomar conta desses bens. Ìwà é o atributo de maior valor entre todos, no sistema yorubá.
Vemos que o costume dos zeladores de santo, de transmitir ensinamentos através de lendas (itans) em que os Orixás se comportam como pessoas comuns, com seus defeitos e fraquezas, é também uma herança da cultura tradicional yorubá.
Fonte: CULTURA IORUBÁ - Costumes e Tradições


sexta-feira, 27 de julho de 2018

“Àgùtàn e a Ancestralidade”

“Àgùtàn e a Ancestralidade”
Agutan, porque ofertamos aos Ancestrais?
A importância do Agutan nesses rituais fúnebres, bem como, no Culto aos Ancestrais de modo geral.
Há uma antiga história Nago que diz que Iki, foi consultar Ifá, o Deus da Adivinhação. Nessa consulta, Ifá disse à Iki que ele possuía um “amigo” (Agutan), que intentava matá-lo. Ifá recomendou à Iki, que realizasse uma oferenda, de modo que esse suposto amigo não tivesse sucesso em sua empreitada e que cantasse um determinado cântico caso estivesse em perigo.
Muito atento às orientações de Ifá, Iki realizou tudo como lhe fora prescrito e aprendeu a determinada cantiga.
Um dia, Agutan foi visitar o Deus Olofin, percebendo que o seu santuário de culto aos ancestrais estava vazio. Assim, ele indagou à Olofin, o que ele usava como oferendas no culto aos seus Ancestrais. Olofin, por sua vez, respondeu que ele utilizava Obì como sacrifício. Agutan riu muito, dizendo que, embora isso fosse bom, ele teria algo muito melhor para ser ofertado aos Ancestrais (Iki), Olofin agradeceu e, disse que iria aguardar a oferta para que pudesse novamente render homenagens aos ancestrais.
Agutan, então, foi visitar Iki, perguntando-lhe se, o seu pai, já havia lhe contado sobre um jogo que ele e Agutan costumavam sempre jogar. Iki afirmou que não, que seu pai nunca havia lhe falado sobre esse jogo, perguntando como que era.
Agutan disse a Iki que o jogo era bastante simples. Que ele deveria entrar em um recipiente de madeira fechado, enquanto o outro lhe carregava para dar umas voltas, durante 70 passadas e depois trocavam de posições. Iki falou que, realmente seu pai nunca havia lhe dito sobre essa brincadeira, mas parecia ser divertida.
Agutan colocou um recipiente de madeira no chão e entrou dentro. Ele pediu a Iki que tampasse e então o carregasse por alguns lugares. Percorrida a distância de 70 passadas, Agutan disse que era a vez de Iki.
Iki, então, entrou no recipiente de madeira, mas após os 70 passos, Agutan não parou para Iki sair. Iki implorou que Agutan parasse para ele sair, no entanto, Agutan não lhe deu ouvidos. Iki então lembrou-se dos conselhos de Ifá, sobretudo a orientação sobre o cântico. Imediatamente Ikin começou a cantar os versos que Ifá lhe ensinou.
Após alguns momentos, Agutan sacudiu o recipiente e ouviu o som dos braceletes de ferro e continuou caminhado para casa de Olofin, pensando que Iki ainda estivesse dentro do recipiente.
Quando ele chegou à casa de Olofin, ele entregou o recipiente a Olofin, dizendo que ali estava a oferenda que havia prometido aos Ancestrais.
Quando Olofin abriu o recipiente, viu somente braceletes de ferro e ficou muito irritado, pois Agutan havia lhe enganado.
Olofin disse que devido Agutan tentar enganá-lo, ele seria ofertado aos Ancestrais. Após esse dia, Agutan tornou-se oferenda aos Ancestrais.
Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos estar contribuindo para a elucidação e edificação da nossa Cultura, explanando sobre os nossos importantes dogmas sem que, no entanto, revelemos aquilo que só é facultado aos iniciados.
Que o nosso Pai, Òsùmàrè Aráká, abençoe sempre a vida de vocês.
Por: Casa do Òsùmàrè.


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Iya mi Osoronga

Iya mi Osoronga
 
Autor: Babalawo Ifagbaiyin Agboola
Quando a imagem negativa precedi o sujeito o texto por mais elucidativo que seja é incapaz de mudar anos de falta de informações confiáveis.
Escrever sobre Iya mi deveria ser um compromisso de todo o sacerdote do culto ao Orixá, é nossa obrigação desmistificar e enaltecer as divindades do panteão Yoruba.
O Orixá é a razão de culto, é amor, é fé e o ideal é adotar uma postura de respeito e carinho, se não for assim não tem sentido, por essa razão vou escrever mais uma vez sobre esse Orixá maravilhoso.
Falar sobre Iya mi é transitar pelos textos dos odus Osá meji, Ose Oyeku, Irete meji, Ogbe Sa e Irete Owonrin e Irete Ogbe, embora Iya mi se faça se presente em todos os odus.
Exu, Orunmila e Iya mi respondem nos duzentos e cinquenta e seis odus, porém em alguns é exaltada a necessidade de pactuar com Iya mi de forma a criar uma aproximação do indivíduo com a informação e a ritualística considerando que a energia já o acompanha desde o nascimento.
Vejo constantemente supostos conhecedores falando mal de Orixá e de determinados odus um desses é Osá meji famoso entre os incultos como odu negativo, é por essa razão que vamos começar falando do aspecto positivo contido nesse odu e no culto a Iya mi Osoronga.
No odu Osá meji, Iya mi Odu quando chega a terra age sem limites desrespeitando os Orixás a ponto de vestir a roupa de Egungun, nesse odu Iya mi encontra dificuldade para dançar com a roupa de Egungun e Obàtálá introduz em uma incisão do tecido com uma rede para que permita a ela conseguir enxergar.
É evidente que posterior a essas confusões algo tinha que ser feito e Iya mi deveria ser acalmada então após uma consulta a Orunmila, Obàtálá é aconselhado a dividir seu alimento com Iya mi. A água do igbin (omi ero), oferecida para Iya odu que imediatamente adota como o seu principal alimento, o igbin, com esse ato Obàtálá acalma Iya Odu.
O trabalho de um Babalawo é interpretar os versos de ifá, considerando o citado acima estamos falando de um convívio harmonioso entre um personagem masculino e um feminino, a água do igbin é conhecido como a água que acalma, sendo assim esse odu fala de um período de paz e prosperidade.
Já no odu Irete Owonrin, Obàtálá tenta ludibriar Iya mi se negando a pagar um tributo para a grande mãe ancestral, Iya mi com habilidade percebe a armação e se antecipa ao embuste criado.
Interpretando essa passagem do Odu Irete Owonrin percebemos que Iya mi só quer o que é dela por direito deixando bem claro que ela não se antepõe aos Orixás ou aos seres humanos.
Em uma linguagem popular se fomos comparar o Orun a uma empresa usando assim uma didática de fácil assimilação o processo seria composto da seguinte forma:
- Olódùmarè seria o equivalente ao presidente da empresa, que teria imediatamente dois diretores de total confiança.
- Orunmila seria o equivalente a um diretor administrativo que identifica e orienta a questão.
- Iya mi seria o equivalente a um diretor executivo com a função de dar andamento as orientações
fornecidas por Orunmila, sendo assim o destino por nós escolhido diante de Ajala antes de vir para terra é testemunhado por Orunmila e informado a Iya mi.
-Iya mi não interfere na escolha de nosso destino, ela segue as orientações de Orunmila liberando os seus assistentes (ajoguns), para executarem o trabalho.
Os ajoguns, iku(morte), arun (doença), ejo (problemas),etc, são liberados por Iya mi em quase a totalidade das situações correspondendo a uma escolha feita por nós mesmos, não é Iya mi que é ruim ou perversa ela exerce uma função assim como os demais Orixás.
As pessoas iniciadas em Orixá não podem ser sepultadas em gavetas o ideal é que seus corpos sejam restituídos a terra, sendo assim o ajogun iku(morte), não é ruim, ele exerce uma função determinada por Iya mi porém em data quase sempre escolhida por nós.
No odu Ogbe Yonu, Orunmila orienta os Orixás para oferecerem efun e osun, além de várias folhas para Iya mi Osoronga, Iya mi se compromete a não atacar os filhos dos Orixás.
No odu Ogbe Sa, Iya mi se compromete com Orunmila em fazer o bem quando chega a terra, ela diz a Orunmila, que seus filhos vão ter prosperidade e felicidade.
No odu Irete meji Orunmila viaja para a cidade de Ota e descobri o segredo das Iya mi, ele oferece o prato predileto delas e eles se tornam amigos.
No odu Irete Ogbe, Iya Odu se torna a esposa de Orunmila que reconhece o poder de Iya quando ela invoca o pássaro Aragamágo como sendo muito superior ao seu.
No odu Ose Oyeku Orunmila orienta Ogun, Obaluaye, Oduduwa e Obàtálá para que façam oferenda para Iya mi que reconhece os mesmos como filhos.
A figura materna de Iya mi é confirmada em vários versos de ifá, uma mãe tem o dever de zelar pelos seus filhos, não tem o dever de agradá-los, nem tudo que uma mãe faz é compreendido por seus descendentes.
Iya mi é uma mãe zelosa e poderosa que habita dentro de cada um de nós, em nossas vísceras ela pode se manifestar de maneira positiva ou negativa. Iya mi pode criar um mal-estar para impedir que a pessoa saia de casa e seja vítima de algo que não faça parte de seu destino, o problema intestinal certamente vai ser visto de forma negativa, mas será necessário para manter a pessoa longe do perigo.
A igreja católica ao longo da história combateu a figura feminina por temer a capacidade que só as mulheres têm, que é abrigar uma nova vida dentro delas, as mulheres são muito superiores aos homens em vários sentidos, essa é a verdadeira razão do combate histórico a figura feminina. Iya mi foi uma das vítimas desse processo histórico.
Para cultuar Iya mi é necessário amar e respeitar a figura feminina, respeitar as mães, as irmãs, as filhas, respeitar a natureza e o poder de criação, Iya mi é a própria vida, é quem nos gerou, é quem nos abrigou no passado, é que nos abriga no presente, é com certeza quem vai nos abrigar em um futuro quando passarmos dessa para uma outra.
Algumas pessoas em seu odu de nascimento necessitam se aprofundar no culto a Iya mi, mais do que outras, isso se deve a própria história de cada odu e ao destino escolhido pela pessoa, de qualquer forma o culto a Iya mi pode ser praticado por qualquer um, agradar aos nossos antepassados femininos é muito mais fácil do que parece. Para agradar Iya mi temos que estar em harmonia com a natureza e com os nossos semelhantes, a essência do culto a Iya mi é a força feminina maternal que gera e mantém a vida, manter a vida é como amamentar o recém-nascido, é conservar a essência e estimular o desenvolvimento do que temos de melhor.
Iya mi é a força da vida é a capacidade de criar, é a capacidade de amar, é a manutenção da vida, é o leite que alimenta o recém-nascido é o desenvolvimento sadio é a evolução, é a capacidade de renovar como forma de perpetuar a vida.
Em uma arvore grande e sadia podemos observar centenas de galhos como extensão do tronco, podemos ver milhares de folhas e frutos como extensão dos galhos, os frutos dentro deles têm centenas de sementes que geraram outras arvores.
É esse ciclo da vida que representa Iya mi a arvore é só um exemplo, quando estamos diante de uma mulher gravida esse mesmo ciclo pode ser observado, assim é a história, nada acontece sem essas senhoras.
Me causa espanto a falta de conhecimento sobre Iya mi, eu acredito que com o passar do tempo muito desses mitos devem desaparecer.
O certo é que o tempo para a falta de informação está terminando.
Imagem: Google

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Ègbé òrun (A sociedade das crianças do céu)

Ègbé òrun (A sociedade das crianças do céu)
 
 


 
 
Egbé òrun são companheiros espirituais.
Cada pessoa tem a sua preferência de companhia no òrun antes de vir ao ayè, quando uma pessoa vem do òrun ela pode estar associada a muitos grupos.
Um destes grupos é chamado Ègbé Emere um dos mais poderosos.
O destino de uma pessoa já está traçado antes dele vir a Terra. Seu espírito já fez seus acordos com os poderes constituídos. Este acordo pode ser por dinheiro, vida longa, filhos e etc.
Este acordo depende do individuo. Em alguns casos uma pessoa pode ter marido/esposa durante seu tempo no òrun e ter feito uma promessa significativa para ele/ela.
Eles podem ter prometido não se casar com ninguém enquanto viverem na Terra. Como podem ter prometido passar apenas um dia, mês ou ano na terra.
Se o acordo foi quebrado quando esta pessoa estava na Terra, esta pessoa vai ter muitos problemas em sua vida terrena.
É importante que uma pessoa faça um sacrifício relevante para Ègbé Emere, Ègbé Eru Didi ou Ègbé òrun, para sua situação em particular quando chegar a este mundo.
Alguns prometem fazer este sacrificio quando estão no òrun, mas quando chegam a Terra não buscam estas informações e não fazem o sacrificio combinado.
Algumas pessoas tem acordo com Egbé òrun no oceano, outros em árvores, todos tem seus companheiros de Ègbé ou espiritos que estavam junto dele enquanto permaneciam no òrun.

No Odù Òyékú’Ogbè vemos

Ìjì Àjí a ko jiré
Isun asùn a ko sun ire
Ebo Òyèkú-L’ogbè la o mon.

Foi divinado para Òrúnmìlá quando ele guardava seu dinheiro no quarto.
Um dia ele voltou de viagem e descobriu que estava faltando dinheiro.
Ele pensou que fossem seus Áwo que estavam lhe roubando.
O dinheiro continuava sumindo e Òrúnmìlá descobriu que era seu Egbé que estava perturbando sua vida.
Ele realizou sacrificio, alimentou-os.
Após fazer isso o dinheiro deixou de sumir.
Ele então começou a alimentá-los periodicamente e não teve mais problema.

Os problemas das pessoas se manifestam de maneiras diferentes.
Alguns perdem emprego, outros têm problemas no parto, no casamento ou no relacionamento, isto depende da circunstância individual. Tudo isto poderia ser uma promessa quebrada com seu Egbé ou o descontentamento deles com algo que a pessoa esteja fazendo na Terra. É o Egbé que tem o poder de levar coisas essenciais a alguém para fazer sua vida infeliz, é feito por causa de um acordo quebrado.
Nem todos são Abiku, nem todos vão morrer na cerimônia do nome ou no dia do casamento. Porém para alguns pode ser o caso.
Quando Egbé òrun vem buscá-lo é por causa do acordo original.

Em Òsé-Ògúndá temos:

Òsé Omolú
Òsí ko mo áwo
Agada ko mo Orí
Eni o da oru

Foi feita divinação para ómó Asode, ómó Aroko e ómó Asawo, estas três crianças vieram do òrun, no mesmo período e com a mesma promessa.
Eles fizeram promessa antes de vir a Terra e iriam voltar para o òrun depois de ficar apenas sete dias.
As três mães fizeram jogo com babalawo.
Apenas uma das mães fez o sacrificio prescrito.
Elas foram orientadas a não fazer a cerimônia do nome e nem fazer festa, elas deveriam apenas dar um nome a criança e nada mais.
As outras duas mães usaram o dinheiro para uma grande festa em vez de fazer o sacrificio.
Durante a cerimônia do nome, Ègbé òrun chamou suas crianças de volta para casa.
Quando chegaram a ómó Asawo eles foram incapazes de levá-lo.
É destino de algumas pessoas serem muito poderosas na Terra. É através do Egbé que seus aspectos positivos se manifestarão. Para algumas pessoas uma coisa pequena e insignificante se transformará em algo muito grande através da influencia de Ègbé. É sempre importante que as pessoas cuidem de Ègbé. Em casos de crianças doentes é importantíssimo, pois problemas na infância podem estar ligados e sendo causados por Ègbé òrun.

Texto de: Owolabi Aworeni

sexta-feira, 20 de julho de 2018

ABIKUNIDADE

"ABIKUNIDADE"
 
Sucessivos abortos numa mesma mulher, partos seguidos da morte da criança recém nascida, morte de crianças ou jovens, repentinas
e associadas a estágios significativos de vida, tais como mudanças nas fases de crescimento, aniversários, casamento ou nascimento do primeiro filho, são identificados como acontecimentos ligados aos Àbíkú.
O que é “Àbíkú”?
A tradução literal é “nascido para morrer” (a bi ku) ou “o parimos e ele morreu” (a bi o ku), designando crianças ou jovens que morrem antes de seus pais. Há, assim, dois tipos de Àbíkú: o primeiro, Àbíkú – omode, designando crianças e o segundo, Àbíkú – Agba, referindo-se a jovens ou adultos que morrem, via de regra, em momentos significativos de suas vidas e sempre antes dos pais, apresentando nisso uma alteração da ordem natural que socialmente é aceita e entendida como: aqueles que chegaram ao Aiyé (mundo físico) primeiro, voltam primeiro ao Orún (mundo espiritual). Nessa questão, além da lógica natural, está presente a garantia da continuidade no Aiyé e a certeza da lembrança e do culto ao ancestral que deixa descendentes que recontarão sua história ao longo dos tempos, garantindo sua “sobrevivência” na comunidade.
No Orún vive um grupo de crianças chamadas Emere ou Elegbe e este grupo constitui o Egbe Orún Àbíkú, ou seja, sociedade das crianças que nascem para morrer. Contam os mitos que a primeira vez que os Àbíkú vieram para a terra foi em Awaiye e constituíam um grupo de duzentos e oitenta, trazidos por Alawaiye, chefe deles no Orún. Na encruzilhada que une o Orún ao Aiyé, ikorita meta, todos pararam e vários pactos foram feitos, definindo o momento particular do retorno de cada um ao Orún. Alguns voltariam quando vissem pela primeira vez o rosto da mãe, outros quando casassem, um terceiro grupo voltaria quando completassem determinado tempo de vida, um quarto grupo voltaria quando tivessem o primeiro filho, e assim por diante. E o carinho dos pais, o amor que recebessem ou os presentes não seriam capazes de retê-los no Aiyé. Alguns assumiram o compromisso de que nem nasceriam. Esse pacto deveria ser cumprido e os seus companheiros no Orún manterem-se presentes na sua vida, interagindo no seu dia a dia, para que não o esquecessem e retornassem ao Orún tão logo o momento pactuado ocorresse.
Como chega a ocorrer o nascimento ou a manifestação de um Àbíkú em uma gravidez? O Ioruba acredita que a acção do Àbíkú ocorre por determinação do destino da mãe, ou por força de magia/feitiçaria, ou por condições acidentais. O Prof. Sikiru Salami e a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, na sua monografia “Ayedungbe: a terra é doce para nela se viver – rito na luta contra a morte de Àbíkú”, definem essas condições acidentais como “aquisição inadvertida de um Àbíkú por uma mulher grávida que não tenha tomado os necessários cuidados para evitar isso”. Existe a crença de que uma mulher grávida, ao passar por determinados locais em que os Àbíkú se estabelecem, se não estiver devidamente protegida, pode ver-se invadida por este “espírito” e tornar-se sujeita à gravidez de um Àbíkú. Por isso cuidados especiais são tomados pelas mulheres tão logo tenham consciência do estado de gravidez. Não é raro que mulheres grávidas carreguem junto a barriga um “ota”, devidamente preparado, para evitar essa “invasão” por parte de um Elegbe. Sacrifícios, oferendas e rezas são feitas também com o objectivo de evitar que uma mulher tenha filhos Àbíkú ou que, grávida, venha a ser “invadida” por um deles.
Deixando de lado condições acidentais ou efeito de magia/feitiçaria, temos observado que a ocorrência de Àbíkú numa mãe invariavelmente repete uma história familiar que podemos reconhecer procurando os seus antecedentes. Ou seja, podemos procurar nos antecedentes familiares da mãe para constatar, invariavelmente, que este Àbíkú vem se fazendo presente na família, geração após geração, em linha directa ou não.
Outra questão interessante é que podemos afirmar com grande precisão que alguns Odú de nascimento predispõem a ocorrência de Elegbe. Assim, temos que mulheres regidas pelo Odú Ogundabede (Ogunda + Ogbe) são naturalmente predispostas a gerarem filhos Àbíkú e, identificadas, quando ainda não são mães, certas oferendas são realizadas e alimentos são-lhes dados para prevenir a ocorrência. Ebó igualmente é feito nas situações em que já geraram filhos ou planejam gerar – um preá é colocado acima da porta de entrada da casa e um peixe acima da porta de trás, para proteger os moradores da visita dos Elegbe que ali vêm em busca de seus companheiros. Neste caso, deixam de ter acesso ao interior da casa e levarão, no lugar da pessoa que vieram buscar, o preá e o peixe. Um Orin Egbe , cantiga dedicada a Aragbo ou Ere Igbo, Orixá protector das crianças Àbíkú, fala-nos desse Ebó.
Entendemos, assim, que Egbe é cultuado e louvado com a finalidade de defender as crianças da morte prematura e oferendas lhe são feitas para que “desistam” de levar os Àbíkú de volta para o Orún, sendo um de seus objectivos a questão da manutenção dessas crianças no Aiyé. Segundo o Prof. Sikiru Salami e a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, na obra já citada, “… Estabelece-se assim um jogo de forças entre Aragbo e a comunidade de Àbíkú que deseja levar seus membros do Aiyé, mundo físico, para o Orún, mundo dos mortos, mundo espiritual.
Cultos e oferendas são realizados tanto para que a comunidade de Àbíkú abra mão de levá-los de volta, como para que Ere igbo os proteja de serem reconduzidos à terra espiritual.” Todas as pessoas nascidas dentro do Odú Ogundabede, homens e mulheres, devem cultuar Egbe. Entende-se também que quem o cultua evoca as suas bênçãos em benefício das crianças do núcleo familiar. Aliás, o culto de Egbe e suas festas trazem muita semelhança com as festas e o culto que se fazem para “Cosme e Damião” e que são, muitas vezes, confundidas com o culto do Òrìsà Ibeji. Este Òrìsà e Egbe (ou Aragbo) são de distintas naturezas, justificam abordagens e tratamentos diferenciados, têm formas particulares de serem louvados, são cultuados por diferentes razões e necessidades, e os seus cultos não podem ser confundidos sob pena de incorrermos em erro de fundamento.
Por último, dois aspectos são importantes de serem nomeados: o primeiro, diz respeito ao que podemos chamar de comportamento peculiar da criança Àbíkú. São, certamente, crianças que se distinguem por este aspecto. Segundo, a resistência, na nossa cultura, que os pais têm em aceitar o facto de terem um filho Àbíkú e a dificuldade consequente em lidar com esta criança e todas as necessidades decorrentes da luta pela sua permanência no Aiyé. Cabe aí um importante papel para o sacerdote que pode ajudá-los a compreender a questão, dar-lhes orientação e acompanhamento durante todo o processo.
Texto de José Ribas
Por Fernando D’Osogiyan
O têrmo Abikú não se pontua apenas à aqueles que nascem para morrer, como determina o conceito Yurubá, pois sendo assim todos nós seríamos Abikús. Costumo dizer, para exemplificar, que Abikú tem qualidade, ou seja, existem vários tipos de abikú e formas de atuação e agregação, numa mesma concepção.
Pode-se cuidar de uma criança Abikú, fazendo-a conviver normalmente entre os seus fazendo oferendas, ebós, tratamento do Orí que são capazes de reter no mundo o Abikú e de lhe fazer esquecer sua promessa de volta, rompendo assim o ciclo de idas e vindas constantes entre o Orun e o Aiye, fazendo pactos também.
Os Abikús tem influência na família, são poderosos manipuladores, videntes, espíritos envelhecidos, atitudes de adulto, etc.
A energia de um Abikú pode rondar uma gravidez, muitos rompimentos e perda de bebê estão relacionadas, porém, não se pode confundir falta de cuidados e tratamento adequado na gravidez com Abikú. Quando o zelador observa através do jogo a presença de Abikú, o tratamento começa no ventre da mãe com as obrigações necessárias e ebós, através de Oxun, Orí, Exú, Egungun, Oxalá.
Existem também os Orixás Abikús Oxalá e Nanã, pois regem a vida e a morte nos dois planos de vida e energia, sendo assim, todas as pessoas de Oxalá e Nanã são Abikús, inclusive a própria iniciação os diferencia como especiais. Mas, independente disso, outras pessoas de qualquer outro Orixá pode ser da família Abikú, a família Kóreo.
Um conceito interessante, que vale uma reflexão é que: uma pessoa pode introduzir em sua vida o espírito abikú, quando antecipa os seus ciclos naturais em função da ambição ou opções de vida. Isto a levará a tornar-se um Abikú, pois certamente terá a data da sua morte antecipada.
Abikú é muito mais do que se pode imaginar, sem dúvida alguma, há conceitos, preceitos, ewós, etc, e deve ser tratado simultâneamente no mundo visível e invisível.
Awúre Kóreo, axé.