VENHA JOGAR BUZIOS

VENHA JOGAR BUZIOS
CONSULTE COM "O CATIÇO" SEU TRANCA RUA. Estamos no bairro Floresta em Belo Horizonte- M.G.

domingo, 9 de novembro de 2008

E depois da morte? Existem muitas respostas para isso, que variam principalmente de acordo com as religiões

Espiritismo é uma religião que veio da europa e foi criada por um homem chamado Allan Kardec. Para os espíritas, quando a pessoa morre, pode virar um espírito de luz, que faz o bem, ou das trevas, que faz o mal. Essa alma pode tanto reencarnar em outro corpo, quanto continuar entre os vivos.

Candomblé

A religião criada por negros no Brasil acredita que, depois da morte, a alma não vai para longe aguardar julgamento. Ela continua próxima da família, atrapalhando ou ajudando quem ficou. Quando alguém morre, faz-se uma trouxa com os objetos que o morto usava e as pessoas se desfazem deles em um ritual.

Muçulmanos

No islamismo, religião que tem muitos seguidores no oriente médio, acredita-se que todo mundo depois da morte será julgado pelo que fez na vida e pode ir para o céu ou para o inferno. As pessoas que morreram são banhadas, levadas até a cova em um caixão e enterradas enroladas apenas em um pano branco de algodão.

Católicos

Nessa religião, a vida é uma só. Assim como no islamismo, depois da morte, a alma aguarda o julgamento pelas coisas boas e más que fez e pode ir para o céu ou para o inferno. Em Portugal, são comuns as ′carpideiras′, mulheres contratadas para chorar pelo morto. No interior do Brasil também existe esse costume.

Indígenas

Varia de comunidade para comunidade. Para os Kaingang, índios do Brasil, os mortos transformam-se em um mosquito ou em uma formiga preta, que incomoda. Por isso, devem ser afastados em um ritual complexo, que envolve música e dança. É um processo com várias etapas, até que quem se foi se distancie de vez.

Hindus e budistas

Eles estão principalmente na Ásia. Na Índia, quando alguém morre, é queimado ao ar livre à beira do Rio Ganges, na frente da família, para que todos se lembrem que o corpo é passageiro. Para budistas do Tibete, a vida é algo que passa rápido e as pessoas podem morrer e reencarnar (voltar em uma outra vida).

Judeus

Para os judeus, as pessoas mortas devem retornar o mais rápido possível. Por isso, o caixão é feito com material barato e tem aberturas no fundo. É proibido ver o corpo e enterrar objetos preciosos. Essa é a forma da religião lembrar que todos são iguais na morte. A família fica de luto por 30 dias.

FONTE: JORNAL A TARDE

Pai de Santo acusado de matar esposa é preso

O pedido de prisão preventiva do pai-de-santo Marco Antônio Martins Xavier, 35, foi aceito pelo juiz Cláudio Pantoja, sob acusação de homicídio. Ele está detido desde sábado passado acusado de ter matado a esposa Sara Ranielle Alves Brito, 18 anos e grávida de quatro meses.

Denúncias da comunidade levaram a Polícia Civil de Juazeiro à prisão de Marco Antônio, que enterrou o corpo da esposa sem registro de óbito e sem que a família dela soubesse de sua morte. Com ordem judicial, o corpo foi exumado e o DPT colheu material para exames em Salvador com prazo de dez dias até a conclusão que pode atestar a causa da morte de Sara e a paternidade do filho.

Marco Antônio, dono de terreiro de candomblé, negou a autoria da morte de Sara. Ele, que tem passagem pela polícia por porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, foi transferido para o presídio de Juazeiro onde aguardará decisão da Justiça. A polícia prossegue as investigações para descobrir os motivos da morte de Sara que foi novamente enterrada domingo passado, desta vez pela família.


FONTE: Jornal A TARDE.

"O candomblé virou moeda forte no jogo político-eleitoral"



FOTO: Marco Aurélio Martins | Folha Imagem

João José Reis | Mostra como um ex-escravo se fez sacerdote e conseguiu ocupar um lugar na sociedade baiana do século XIX



Há três décadas, João José Reis, 56 anos, aguça suas lentes de pesquisador para encontrar, na frieza dos arquivos, relatos de quem se armou de força e engenho para atravessar a escravidão, seja por meio da revolta, da alforria ou de valores e práticas sócio-culturais. Em Domingos Sodré, um sacerdote baiano, que acaba de sair pela Companhia das Letras, o historiador demonstra mais uma vez sua habilidade para cativar tanto acadêmicos quanto leitores, já revelada em Rebelião escrava no Brasil A história do levante dos malês (1986) e A morte é uma festa (1991), entre outras obras. Ele alia rigor de pesquisa, agudeza da interpretação e fôlego narrativo para contar como um ex-escravo se firma na sociedade baiana do século XIX. A biografia de Sodré serve de fio condutor para traçar o painel de uma época e, particularmente, reconstituir parte dos primeiros anos do candomblé. Nascido e criado na Ribeira, em Salvador, Reis diz que se tornou historiador "graças a uma sucessão de encontros e escolhas felizes". A inspiração para estudar história veio de um professor de pré-vestibular, Alberto Goulart Paes Filho, que, por sua vez, o apresentou a Katia de Queirós Mattoso, "primeira mestra em transformar pesquisa em texto". Com sua ajuda, conseguiu uma bolsa para estudar história na Ucsal, curso que realizou em paralelo ao de ciências sociais na Ufba. Pela frente, encontrou outros mestres, como Johannes Augel e Stuart Schwartz - com auxílio do último, defendeu o doutorado na Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Reis é hoje professor do Departamento de História da Ufba e, entre outras atividades, integra a linha de pesquisa Escravidão e invenção da liberdade, que há mais de uma década reúne regularmente pesquisadores da casa e de diversas outras instituições. Desse grupo, já saíram dezenas de dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros, artigos e a produção da revista AfroÁsia, do Centro de Estudos Afro-Orientais Ceao. Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Reis concedida por e-mail à jornalista Josélia Aguiar, para o Cultural.

A TARDENo prefácio, o senhor conta um pouco como ′descobriu′ Domingos Sodré ao pesquisar em arquivos. Em que instante se deu conta de que ele seria o condutor dessa parte da história social do candomblé?

João José Reis | Acontece comigo. Meus livros sobre a Revolta dos Malês e a Revolta da Cemiterada nasceram de assuntos maiores. Domingos era para ser personagem de um artigo, que escrevi e publiquei, mas comecei a encontrar novas fontes que me permitiram ampliar sua biografia e a fazer conexões com biografias de outros personagens. E o artigo evoluiu para o livro. A história do candomblé não é assunto novo pra mim. Desde 1988, publico artigos sobre o tema. Estou para retomar, em parceria com Jocélio Telles dos Santos, meu colega na Ufba, o projeto de uma história social do candomblé ao longo do século XIX, para a qual já escrevemos alguns capítulos.

AT | De ex-escravo, Domingos Sodré se torna feiticeiro e figura de certa influência. O que sua trajetória de vida nos revela dessa sociedade?

JJR Revela que não era uma sociedade absolutamente fechada à mobilidade social, o que não é bem uma novidade para os iniciados. Mas era uma sociedade escravista em que a maioria dos africanos desembarcados como escravos morria como escravos. E para aqueles que conseguiam alforria, a mobilidade não era ilimitada. Havia barreiras raciais e étnicas intransponíveis, e eu as discuto no livro. O africano liberto, por exemplo, não podia participar em nenhum nível do jogo político oficial, não podia votar nem ser eleito, mesmo se fosse rico, como alguns poucos eram. Havia, inclusive, barreiras legais contra a ascensão econômica do africano. No livro, eu mostro, através da trajetória pessoal de Domingos e outros libertos, como os africanos negociaram a superação de algumas dessas barreiras, formando alianças sociais muitas vezes com a ajuda de suas habilidades rituais.



AT | Quais foram as maiores dificuldades para recontar a história de Domingos Sodré? Em vários trechos, o senhor ′imagina′ aquilo que não poderia ser respondido pela inexistência de documentação. De certo modo, confirma o que nos diz Carlo Ginzburg, para quem é possível fazer história com imaginação - e não, obviamente, com invenção?

JJR É isso mesmo. A dificuldade é que a gente não encontra dados para tudo na vida do personagem. A imaginação do historiador entra, não para substituir o dado, mas para propor possibilidades. A imaginação é também mobilizada para interpretar os dados que temos. Num e noutro caso, ajuda o conhecimento acumulado sobre o tema, a época, o lugar, enfim, sobre o contexto histórico objeto do exercício imaginativo.



AT | Uma obra como esta exige domínio de certas técnicas narrativas. Como nasce o escritor dentro do historiador?

JJR Em primeiro lugar, eu não escrevo apenas para especialistas, nem neste nem em livros anteriores. Os aspectos puramente conceituais raramente aparecem em meu trabalho como discussão teórica pura, o que guardo para o debate acadêmico com colegas e alunos. Não quer dizer que, quando escrevo, evito o debate de idéias, o bate-bola com os autores da área e coisas do gênero. Este livro não é apenas descritivo, é interpretativo, conceitual, mas os conceitos fazem parte da própria narrativa. Deixo que o leitor os descubra se quiser, se não lhe bastar desfrutar de uma boa história. O gênero biográfico, por outro lado, ajuda a engajar o leitor porque se aproxima do romance, o que é mais difícil ao se escrever história econômica da escravidão, por exemplo, que exige gráficos e tabelas. A prosa ficcional é feita de personagens com nome, endereço, embates, atitudes, decisões, desafios, perdas e ganhos, amores e dissabores. Domingos Sodré tem tudo isso, e ainda por cima ele existiu.



AT | Por que, na Bahia, o candomblé alcançou maior prestígio que nas demais regiões do País? Foi apenas por uma questão de maior contingente demográfico negro?

JJR O prestígio do candomblé, no sentido de aceitação social e proteção legal, é fenômeno relativamente recente. Há 30 anos, os terreiros tinham que se registrar na Delegacia de Jogos e Costumes. A partir de então, o candomblé virou moeda forte no jogo político-eleitoral, na economia regional (o turismo), na representação identitária (os movimentos negros) - e seu prestígio vem aumentando. Mas foi também ao longo desse período que a religião viu crescer um adversário poderoso nas igrejas evangélicas. Incidentes de intolerância religiosa, de violência verbal e física contra o povo-de-santo são veiculados toda hora na imprensa. Mesmo os poderes políticos ainda não se acostumaram com a idéia de que candomblé é religião com o mesmo estatuto das demais. A Prefeitura há alguns meses demoliu um templo de candomblé e vem assediando o venerável terreiro da Casa Branca para pagar IPTU, quando templo religioso, pelo que sei, é isento deste imposto. Então não diria que a batalha da aceitação e, portanto, o prestígio do candomblé na Bahia sejam ponto pacífico, ainda.



AT | Quais foram os caminhos encontrados pelos negros para a ′invenção da liberdade′ - título, aliás, de um livro organizado pelo senhor em 1988? Algum predominou? Algum foi mais bem-
-sucedido?

JJR A invenção da liberdade começava no interior da escravidão mesma, na conquista de espaços às vezes muito pequenos de respiração, até coisas maiores como manutenção da família unida, a celebração de crenças ancestrais, a liberdade dos batuques e a conquista da alforria. A invenção da liberdade estava também em atitudes mais abertamente rebeldes, a fuga, a formação de quilombos, as revoltas, o protesto abolicionista. A invenção da liberdade se projeta para além da abolição, para as estratégias através das quais indivíduos e coletividades reconstruíram suas vidas para enfrentar novos obstáculos à sua plena cidadania. E como o passado insiste em se renovar, a invenção da liberdade continua nos dias de hoje na mobilização por ações afirmativas, na defesa das cotas para ingresso nas universidades, na disputa político-eleitoral e na negociação cotidiana com patrões, patroas, policiais, fiscais, professores e outros poderes disseminados pela sociedade e o Estado.



AT | Este tema, o da ′invenção da liberdade′, é ainda pouco explorado por historiadores?

JJR Cada vez mais e a partir de diferentes ângulos, conforme acabo de indicar. A resistência e a negociação se tornaram paradigmas fundamentais dos estudos sobre a escravidão e o pós-abolição. Há gente na área se esforçando para descartar a resistência, o que me parece um movimento tipicamente conservador. Alguns falam em negociação, os mais ortodoxos só vêem acomodação. Há tempos escrevo sobre negociação, mas propondo que é a possibilidade do conflito que leva à negociação. É isso que convence o senhor a negociar. Ou você acha que ele negociava porque era bonzinho? A vida é mais complexa do que isto ′ou′ aquilo. É isto, aquilo e algo mais. Domingos Sodré, por exemplo, era contratado por escravos para fazer feitiço contra senhores, mas era ele próprio senhor de escravos.



AT | Há cerca de duas décadas cresceu a quantidade de pesquisas e livros publicados a respeito da escravidão. Recentemente, o mercado editorial colocou à disposição dos leitores muitos livros sobre a África e a cultura afro-
-brasileira, temas que se tornaram obrigatórios nos currículos. Onde a pesquisa mais avançou?
O que já se conseguiu en-
tender melhor ? Há ainda muitas lacunas?

JJR A maior lacuna está em estudos feitos por brasileiros sobre e na África, a partir de pesquisa original. Os livros publicados são, na sua maioria, didáticos e paradidáticos, escritos a partir de fontes secundárias para atender ao mercado criado pela lei que obriga o ensino da história africana nas escolas. Nada contra isso, mas para preencher a lacuna de obras mais aprofundadas, se poderiam criar linhas especiais de financiamento para formar pesquisadores africanistas. E enquanto os resultados dessas pesquisas não aparecem, se poderiam publicar traduções, o que não é feito por não existir mercado consumidor que justifique o investimento. Que o governo então financie os custos de tradução, e receba em troca das editoras mil, dois mil exemplares para serem distribuídos por bibliotecas de universidades, escolas, institutos culturais e de pesquisa. Já a pesquisa sobre escravidão continua em ascensão no Brasil: história econômica, social, cultural, demográfica, estudos sobre tráfico, alforria, família, biografia, resistência, escravidão urbana, rural, abolicionismo. E a Bahia está bem representada no conjunto do Brasil. Já se diz que temos uma ′escola baiana′ de estudos da escravidão. Faltam-nos mais pesquisas sobre
o período colonial baiano, sobre
o interior além do Recôncavo, sobre demografia escrava e economia escravista, sobre o pós-abolição, entre outros temas. Algumas dessas áreas já vêm apresentando resultados em dissertações, teses, artigos e livros, e sei de outras pesquisas em andamento. Mas a maioria dos pesquisadores permanece escrava do século XIX, do Recôncavo e de Salvador. Eu, por exemplo.



AT | É possível já pensar numa obra que interprete a sociedade baiana do século XX com a abrangência daquela feita por Kátia de Queirós Mattoso em relação ao século XIX baiano?

JJR É possível, sim, mas talvez seja melhor idéia pensar em uma obra coletiva, porque o trabalho não será pequeno, se pretender cobrir todo o século XX. As fontes republicanas não estão tão bem organizadas como as do século XIX
e são mais abundantes, pois além dos tradicionais arquivos do Estado e Municipal, tem os arquivos institucionais, militares, policiais, empresariais, particulares, arquivos orais, a literatura, a música,
a iconografia, a imprensa escrita,
o rádio, a TV e agora a internet. Para completar, uma bibliografia republicana crescente, e não apenas
na área específica de história,
que inclui livros, artigos, dissertações e teses. Não sei por que tenho a sensação de ter esquecido alguma coisa...



AT | Em sua vida de historiador, o senhor tem notado aumento ou redução de interesse por história por parte do público comum?



JJR Tenho. No meu tempo de universidade, o quente era ler economistas e sociólogos, Celso Furtado, Antônio Barros, Fernando Henrique, Octávio Ianni etc. A vez agora é da história. Já tivemos verdadeiros best sellers, infelizmen-
te nenhum deles escrito por mim. O interesse vem dos últimos 20 anos, e resulta, em grande medida, da adoção pelos historiadores de uma linguagem menos hermética e de temas mais ao gosto do leitor não-acadêmico. Mas quem melhor aproveita essa fatia do mercado editorial são os jornalistas,
às vezes em obras excelentes, como a série sobre a ditadura, de Elio Gaspari.



AT | O senhor já tem outro projeto em vista? Qual o próximo personagem, ou aspecto da vida baiana, que lhe interessa agora
estudar?



JJR Tenho muitos projetos em andamento, sobre temas variados: fuga de escravos, história social da festa, a greve africana de 1857, continuo interessado nas revoltas escravas, já mencionei o projeto sobre candomblé. Cada tema será um livro algum dia, se eu tiver vida longa. No momento, estou a escrever com Flávio Gomes (UFRJ) e Marcus Carvalho (UFPE) a história de um personagem tão interessante como Domingos, e que talvez tivesse cruzado com ele nas ruas da Bahia. Era nagô muçulmano, prisioneiro de guerra em Oyo, na Nigéria, vendido a traficantes baianos em Lagos, provavelmente, em 1821-22. Na Bahia, foi escravo de um boticário que o treinou como cozinheiro; seguiu com seu senhor-moço para o Rio Grande do Sul, em 1831, onde foi vendido ao chefe de polícia, de quem comprou sua alforria nas vésperas da Farroupilha, em 1835; daí seguiu para o Rio de Janeiro, onde iniciou carreira de cozinheiro a bordo de navios negreiros, um dos quais foi apresado, em 1841, pelos britânicos, por tentativa de tráfico, e levado a julgamento em Serra Leoa. Lá, o nosso personagem freqüentou escolas corânicas durante alguns meses; retornou ao Brasil, depois visitou novamente Serra Leoa para estudos mais prolongados de língua árabe; voltou mais uma vez ao Brasil para se estabelecer no Recife como alufá, adivinho e curandeiro. Em 1853, correram boatos de uma revolta escrava. Este homem foi preso e contou sua história. Seu nome cristão era Rufino José Maria, seu nome muçulmano Abucaré, talvez o que o escrivão de polícia entendeu de Abdu Karin.

FONTE: Jornal A TARDE.