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segunda-feira, 26 de maio de 2008

GEOGRAFIA DOS ORIXÁS

Se na África o culto dos orixás está circunscrito a determinadas regiões ou cidades, no Brasil a coisa foi totalmente diferente. Lá, existe uma localidade especificamente destinada ao culto de determinada divindade, contendo a mesma história, sua origem, seus mitos, e seus ritos. Assim, Ifé, na Nigéria é o centro da criação para o mundo nagô-iorubá, é a capital do mundo mítico e mágico negro, é o Iluaiye de que tanto falam os negros da diáspora. Em Ile-Ife está o culto a Oduduwa, fundador dos povos iorubás, assim como Obatala ou Osala, o Deus que criou o homem. Em Oyo está Sango, que foi seu quarto rei e é o deus do fogo e do trovão, sendo um dos seus antecessores, o seu pai Oranyan, que foi o primeiro rei de Oyo. Em Ire, Ogun, deus do ferro e da guerra, invadiu o dominou a cidade tornando-se rei com o nome de Ogun Onire. Em Abeokuta corre a tradição de lá ter nascido Yemoja, bem como a de que Oyo ou Iansã para os brasileiros, ter nascido em Ira. Erinlé, mais conhecido como Inlé e Ibualama, tem o seu culto em Ilobu, além de ter rio com seu nome. De Ilesa recebemos grande herança. De lá veio o culto a Logun Edé, cujo sacerdote mais velho e mais importante do Brasil é o babalorisa. Eduardo Mangabeira, popularmente conhecido como Eduardo Ijesa, hoje com 99 anos de idade. De Ikija, perto de Ijebu surgiu Ososi, que veio a ser o primeiro rei de Ketu, cidade que depois foi dominada, destruída e anexada ao Dahomey, hoje República Popular de Benin. De seu culto nada mais resta a não ser na diáspora, especificamente na Bahia. Osun tem o seu culto principal em Osogbo, além das cidades de Oboto, Akpara, Ipetu, Ijimu, dentre outras. Osala andou muito. Saiu de Ife peregrinando por diversas regiões, tomando nomes diferentes, ao tempo em que se torna rei dos referidos locais. Em Ejigbo tomou o nome de Osagiyan, em Ifon, Orisa Olofun e assim por diante. Também chegou até a Bahia o culto a Iya Mapo, patrona da vagina, por ser através dela que todos os seres humanos vêm ao mundo, daí a sua sacralização. Iya Mapo é muito venerada e cultuada em Igbeti. Existe um itan Ifa ( história de Ifa), pertencente ao odu Osa Meji (10), que conta como foi colocada a vagina no devido lugar da mulher, até então colocada em vários lugares do corpo, menos no que é hoje. Para isso estiveram envolvidos não só o Odu osa meji, mas também Esu e Iyami Osoronga, num ebó feito com duas bananas e um pote, cabendo a Esu a sua localização atual, bem como a do pênisdo homem do qual Esu é o dono. Quem viaja pela Nigéria, encontrará enormes pênis esculpidos em pedra pelas estradas, em reverência a Esu. Na Bahia, o Esu da porteira do Ase Ile Opo Aganju é assentado com grande pênis esculpido em madeira. Ao saírem da África os primeiros negros com destino ao Brasil, aportaram, primeiramente, na Bahia. Foram negros provenientes das mais diversas etnias e regiões de Angola, Congo, Nigéria, Dahomey, todos misturados formando um todo, como se proviessem de uma só região, de um a só etnia. Nesse esquema e independente de ser a Bahia o porto receptor, e distribuidor, os negros provenientes na Nigéria, por exemplo, não podiam acomodar seus hábitos, costumes, tradições e religiões isoladamente, nas diversas regiões do país, primeiro pela condição de cativos, segundo por não haver semelhança quanto à localização do culto, colocando o de Oduduwa e Obatala e Osala, na cidade da Bahia, à semelhança de Ife, o de Sango no Recife, como se fosse Oyo. Uma solução teria que ser encontrada, sendo a primeira um agrupamento desses negros em etnias para efeito de professamento religioso, em seguida, transportar para a Bahia todas as regiões onde se processam o culto, na África, bem como as divindades. Para isso necessitavam de uma área muito grande, com muitas plantações que davam o nome Ioko ou roça, em nosso falar, ou simplesmente uma faixa de terra para construir o Ile Orisa (casa do orixá), o barracão de festa e, na maioria dos casos, também a casa de morada, ficando depois de tudo pronto com a denominação de terreiro, denominação de conhecimento geral, pois nos primórdios da colonização toda faixa de terra em frente a qualquer edificação era chamada de terreiro, daí a denominação existente ainda hoje, de Terreiro de Jesus, dado à praça que fica em frente ao antigo Colégio dos Jesuítas. Uma vez escolhido o local, segundo a vontade do orixá, faz-se a demarcação da roça, cuidando-se logo de cercá-la com plantações de uso litúrgico, sendo mais freqüente o ewe peregun, mais conhecido como folha de nativo. Escolhida a entrada, comumente chamada de porteira, realiza-se aí o primeiro ato religioso na área, que é "assentar a porteira", o qual consiste no assentamento de um Esu, paraguardar toda área. Esse Esu tem o nome de acordo com as suas características ou procedências, como é o caso do Esu da porteira do Ase Opo Afonja, que é um Esu proveniente de Ketu, conhecido por Esu Alaketu ou Bara Ketu. Já os negros de proveniência fon chamam ao Esu de sua porteira e dos mercados de Axi-Legba. Após esse ato religioso vem a construção da casa da divindade à qual a roça vai pertencer. Em seguida, constrói-se a do Esu da roça, para depois se construir as demais casas de outras divindades e o barracão de festa, no qual são feitos uma série de preceitos no chão e, depois de levantadas as paredes, faz-se o preceito final que é o de 'dar comida à comieira". Uma vez pronto, vem a inauguração do que se chama roça, candomblé, axé, casa de santo, terreiro ou ile orisa. Assim tem o sítio sagrado terrestre, mas os atos sagrados vão além do espaço terrestre, realizam-se nos rios (odo), no mar (okun), nas fontes e poços (ibu), nas lagoas (osa), no ar, no firmamento (ofurufu), enfim em todo canto do mundo (aiye), que se fazem necessários. Nesses casos, os fiéis se deslocam de seu sítio sagrado para esses lugares, também sagrados, mas que são de uso de todos. Nos rios se fazem oferendas e ritos para Osun, divindade do rio Osun, com cerimônias nas suas margens, em Osogbo. Yemoja, no rio Ogun, Yewa no rio Yewa, Erinle, no rio Erinle. No mar, Iya Olokun, que é sua dona, tem o seu rito como na Nigéria, onde existem esculpidas suas cabeças. Na Bahia se devota grande respeito a essa divindade. Não se entra no mar sem lhe saudar e pedir licença, dizendo Iya Olokun to to hun , Iya Olokun gba mi o, Iya Olokun ago :Mãe Olokun extremamente respeitada , Mãe Olokun me valha , Mãe Olokun licença, após o que se entrar no mar. Nas lagoas é Iya Olosa quem mora, sendo localizada em determinadas partes chamadas ibu (poço), aí se fazem as oferendas e ritos, procedem-se da mesma forma como Iya Olokun, antes de se entrar na água; apenas substitui-se o nome de Iya Olokun por Iya Olosa. Na Bahia ela é dona do Abaeté, do lago chamado Dique. As ruas, os caminhos, as encruzilhadas pertencem a Esu. Nesses lugares se invoca a sua presença, fazem-se sacrifícios, arreiam-se oferendas e se lhe fazem pedidos para o bem e para o mal, sobretudo nas horas mais perigosas que são ao meio-dia e a meia-noite, principalmente nessa hora, porque a noite é governada pelo perigosíssimo odu Oyeku Meji. À meia-noite ninguém deve estar na rua, principalmente em encruzilhada, mas se isso acontecer deve-se entrar em algum lugar e esperar passar os primeiros minutos. Também o vento (afefe) de que Oya ou Iansã é a dona, pode ser bom ou mal. Através dele se enviam as coisas boas e ruins, sobretudo o vento ruim que provoca a doença que o povo chama de ar do vento. Ofurufu, o firmamento, o ar também desempenha o seu papel importante, sobretudo à noite, quando seu espaço pertence a Eleye, que são os Aje, transformadas em pássaros do mal, como Agbibgó, Elùlú, Atioro, Osoronga, dentre outros, nos quais se transforma a Aje – mãe, mais conhecida por Iyami Osoronga. Trazidas ao mundo pelo odu Osa Meji, as Aje, juntamente com o odu Oyeku Meji, formam o grande perigo da noite. Eleye voa espalmada de um lado para o outro da cidade, emitindo um eco que rasga o silêncio da noite e enche de pavor os que a ouvem ou vêem. Todas as precauções são tomadas. Se não se sabe como aplacar sua fúria ou conduzi-la dentro do que se quer, a única coisa a se fazer é afugentá-la ou esconjurá-la, ao ouvir o seu eco, dizendo Oya obe ori (que a faca de Iansã corte seu pescoço), ou então Fo, fo, fo (voe, voe, voe). Em caso contrário, tem-se que agradá-la, porque sua fúria é fatal. Se é num momento em que está voando, totalmente espalmada, ou após seu eco aterrorizador, dizemos respeitosamente A fo fagun wo lu ( [saúdo] a que voa espalmada dentro da cidade), ou se após gritar resolver pousar em qualquer ponto alto ou numa de suas árvores prediletas, dizemos para agradá-la : Atioro bale sege sege ( saúdo ] Atioro que pousa elegantemente) e assim, uma série de procedimentos são feitos diante de um dos donos do firmamento à noite. Mesmo agradando-a não se pode descuidar, porque ela é fatal, mesmo em se lhe felicitando temos que nos precaver. Se nos referimos a ela ou falamos em seu nome durante o dia, até antes do sol se pôr, fazemos um no chão com o dedo indicador, atitude tomada diante de tudo que representa perigo. Se durante à noite corremos a mão espalmada, à altura da cabeça, de um lado para o outro, a fim de evitar que ela pouse, o que significará a morte. Enfim, há uma infinidade de maneiras de proceder em tais circunstâncias.Dentro do espaço sagrado, ainda se têm os matos rasteiros e os matos fechados, na via pública. Nos primeiros, arreiam-se restos de comidas das divindades e pequenos ebo. Nos segundos os grandes ebo; fazem-se rituais e tiram-se folhas (ervas sagradas), neste caso um ritual de entrada e saída do mato para Ossaniyn deve ser feito para que se possa encontrar o que se foi buscar, bem como o caminho de volta. Há também as árvores sagradas em conjunto ou solitárias pelos caminhos da cidade. São os pés de Iroko, pertencentes à divindade do mesmo nome, os pés de Obi, Atori, Aridan, Akoko, Apakoka, essas três pertencentes a Eleiye, lugar de pouso ou morada. Como se vê, todos os pontos da cidade da Bahia são sagrados, identificam-se perfeitamente os lugares onde Esu faz ponto, no centro ou afastado da cidade, quem cuida dele, assim como o lugar onde há egun (alma) de alguém que negociava, mas que ao falecer o egun ficou guardando o lugar para que outra pessoa não viesse ocupá-lo. Por outro lado, acomodavam-se em determinados locais, unindo-se por etnias. Deste modo, no local hoje chamado Gomeia, que é uma corruptela de Abomey, se reuniam os povos de língua fon, vindos do Dahomey, hoje República Popular de Benin e aí se alastraram em derredor, formando pequenos agrupamentos em função das cidades daomeanas e de suas procedências, como Mahis, Savalu e a própria Abomey, cultuando divindades com Kpo, Ayzan, Sogbo, Sakpata dentre outras. Em outro ponto da cidade onde existe uma baixada chamada Baixa do Bonocô, antes Gunucô (11), que é uma corruptela de Igunnuko, os negros se reuniam a noite para fazer o ritual de Baba Igunnuko, em volta de uma árvore sacralizada, distribuindo egbo (milho branco cozido) enquanto dava meia-noite quando Baba Igunnuko aparecia. Os fiéis que desejassem fazer uma consulta tomavam de uma terrina branca, eko (acaça), vela e dinheiro e pediam o que queriam, para quando ele chegasse respondesse as consultas feitas, de acordo com a terrina que encontravam aos pés da árvore. Ao som de cânticos e toques, Baba Igunnuko dançava de um lado para o outro, e quando avançava para o lado contrário à área do ritual, traziam-no de volta, sempre dizendo Eso, eso Baba (Calma, calma, pai). Essa pequena área que hoje deu nome a todo o vale (Vale do Bonocô), era onde se fazia a maior concentração de negros. Posteriormente em seus limites surgiram vários terreiros como o Ile Ogun Ja, fundado e dirigido pelo famoso babalorisa Procópio Xavier de Souza, nascido filho de Osala, que depois entregou a cabeça de seu filho a Ogun Ja. Com o desenvolvimento urbano da cidade, esse Ile Ogun Ja emprestou sua dominação a toda a área em frente, atualmente chamada Vale do Ogun Ja. Indo mais além da área, encontra-se o terreiro fundado por Dionísia Francisca Regis, hoje conhecido por terreiro do Alaketu, que quer dizer Senhor de Ketu, uma vez que é um bairro na cidade de Ketu, onde mora o rei. No local antes chamado Quinta das Beatas, há uma infinidade de cultos de procedência africana, responsável pelas denominações de várias ruas, entre elas a que se chama Giri giri, nome tirado de um canto de Ososi, um dos deuses da caça. Giri giri se refere à maneira de segurar as rédeas do cavalo, quando se está montado, pois uma das concepções de Ososi é de um rei sempre montado a cavalo. Na localidade secularmente conhecida por Campo Seco, ainda hoje com muitos cultos afro-brasileiros, existe uma rua chamada Beru, corrupela de Gberu, nome próprio personativo, inclusive de um dos reis de Oyo (12). É muito comum ao povo guardar na memória os reis das regiões de onde provieram seus antepassados, sobretudo se esses reis foram divindades. No caso de Oyo, se fala e se reverencia muito Oranyan, Aganju e Sango, o quarto rei coroado em Oyo. Na cidade baixa havia uma área sagrada destinada ao culto de Gelede (máscara), no local conhecido até hoje como Dezendeiros do Bonfim, bem onde está localizada a Vila Militar. Aí se fazia a maior concentração desse ritual. Toda cidade se movimentava. Os mais altos dignatários do culto compareciam e tinham nomes e títulos no culto de Gelede, estando entre os mais famosos Maria Júlia Figueiredo, sacerdotisa do terreiro Ile Ase Iya Naso, a qual além do título de Iyalode, tinha o nome de Erelu, no ritual de Gelede. Muito me falou da cerimônia o falecido Miguel Santana, Ogan de Obaluaiye do Ile Aseiya Naso e Oba Are do Ase Opo Afonja, que muito sabia desse preceito. Esse ritual também se processava na cidade alta, no local até hoje chamada Rua do Tijolo. Aí, quando menina, a famosa Iyalorisa Menininha (Maria Escolástica da Conceição Nazaré) assistiu a esses rituais, Menininha emocionou-se com a recordação, cantou muitas músicas de Gelede, ao tempo em que falou várias coisas que aprendeu.Ainda no centro da cidade, no bairro da Saúde, havia outra concentração de negros iorubás, daí a localidade, com placa oficial de nome cristão Leão Veloso se chamar Nego Tedo e a Constâncio Alves, de Beco dos Nagôs. No bairro da Federação há um antigo recanto sacralizado pelos povos fons do antigo Dahomey, descendentes das cidades de Mahis e Dassa. Aí se instalaram e criaram o culto dos vodun (deus, divindade), com tamanha eficácia e conhecimento geral da cidade, que o local começou a se chamar de Bogun, que é corruptela de vodun. Instalou-se aí o terreiro do Bogun propriamente dito, fundado por africanos e, na rua paralela, havia o terreiro de Pozerren, o qual deu nome a toda área, até então conservado na memória das pessoas mais velhas. Pozerren é corruptela do fon Kpo zeli, o pote com função de tambor e Kpo, a pantera. O terreiro de Bogun existe até hoje, mantendo a tradição de seus fundadores, inclusive a saudação feita nos grandes momentos do ritual Zo gbo do vodoun male houndo (o fogo aceso sobre o vodun não pode afastar os adoradores). O termo Cabula vem do quicongo kabula, que além de ser verbo (14) é nome próprio personativo feminino e também nome de um ritmo religioso (15), muito tocado, cantado e dançando, daí o bairro tomar o nome do ritmo (16) freqüentíssimo naquela área, onde suas matas eram utilizadas pelos sacerdotes quicongos, mais conhecidos como zeladores de nkisi (força mágica, divindade), para dar o grau ao noviço possuído pela nkita, espírito de seus ancestrais. A nkita passa o dia inteiro dentro da mata, somente antes do sol se pôr vai-se embora. Muito perigosa, podendo até causar a morte de quem passar no local, desapercebido. Para advertir a quem passa, costuma-se colocar um mastro com uma bandeira branca, na entrada da mata. Também era área dos povos Congo e Angola a parte baixa do Cabula, que se estendia até o local ainda hoje chamado Ladeira do Bozó, cujo nome vem do quicongo mbóozo (significando feitiço, bruxaria (17)).A rua tomou esse nome em virtude de ali haver um gigantesco pé de Iroko, onde todos arreiam seus bozós ou ebo para os negros de procedência nagô-iorubá. Mais tarde, começaram a chegar os nagôs, que aos poucos foram se alojando pela área, sendo atualmente, o terreiro mais antigo do local o Ase Opo Afonja, fundado e plantado em 1910 por Ob Biyi (Eugênia Ana dos Santos, Aninha).

Extraído do site araketo.hpg.ig.com.

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