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domingo, 1 de fevereiro de 2009

“Nina Está Maluco!”

Por Alexandre Cumino



“Frequenta Candomblés, deita-se com yaôs e come a comida dos Orixás”, era a afirmação de alguns colegas e críticos sobre Nina Rodrigues e seu interesse pelo negro e sua dedicação à pesquisa de campo. Nina Rodrigues não fala como alguém de dentro, mas sim como alguém que esteve por dentro e expressa o que até então ninguém havia expressado antes.



Médico por profissão, antropólogo por especialização, também exerceu as funções de legista, epidemiologista, clínico, professor, escritor, etnólogo e muito mais...



Incentivado pelos estudos de antropologia criminal, convivendo com republicanos e abolicionistas, tocado pela situação dos menos favorecidos, chamado de médico dos pobres, Nina Rodrigues se encantou com o universo dos africanos no Brasil.



Entre os seus escritos, destaco dois livros de importância fundamental para o estudo da cultura negra no Brasil, um deles é O Animismo Fetichista dos Negros na Bahia, publicado em 1900, e o outro é a presente obra, escrita entre 1890 e 1905, publicada em 1932.



O que temos em mãos neste momento é um estudo fundamental que vai muito além da Antropologia.



Nina Rodrigues foi o primeiro brasileiro a estudar com profundidade a cultura negra de forma multidisciplinar, o que dá ampla visão do panorama que envolvia a questão do negro no imediato momento pós lei áurea.



Seu estudo registra, também, os cultos afros, oferecendo base de estudo para a Sociologia da Religião, a Psicologia da Religião, a História das Religiões, a Teologia Comparada e a Ciências da Religião, entre outras.



Ao ler a obra de Nina Rodrigues, é importante lembrar em que época e condição ela foi escrita: no período final da escravidão em que imperava a visão positivista de Augusto Comte. O Positivismo pregava que a Mitologia havia sido superada pela Religião que, por sua vez, seria superada pela Ciência. Na mesma época, cristãos acreditavam que as demais religiões não cristãs eram deturpações da “religião verdadeira”, e que um dia todos iriam “evoluir” e se tornar cristãos; em virtude disso, eram empreendidas as “missões” com objetivo de converter e salvar as almas.



Nina Rodrigues traz uma visão preconceituosa com relação à raça negra e também a respeito do culto ou da Religião Afro definida como animismo e fetichismo. No entanto, a riqueza desta obra nos faz desconsiderar essa parcialidade, levando ainda em consideração “a viva simpatia” declarada por ele ao “negro brasileiro”.



São poucos os que tiveram acesso à obra deste autor, todavia, desses poucos podemos citar alguns ilustres, como o “pai da Antropologia Brasileira”, Arthur Ramos, autor da obra “O Negro Brasileiro”, 1934, que foi considerada uma continuação do trabalho de Nina Rodrigues. Edson Carneiro, discípulo de Arthur Ramos, também bebeu nessa fonte fecunda, vindo a publicar títulos como: Negros Bantos, Quilombo dos Palmares e Candomblés da Bahia. Pierre Verger, fotógrafo e antropólogo, faz referência a Nina Rodrigues em sua obra Orixás e Notas Sobre o Culto aos Orixás e Voduns, que são consideradas fundamentais para o entendimento dos Cultos de Nação e Candomblé.



Em 1934, é fundada a USP, que traz uma missão de franceses para o Brasil, como colaboradores e professores, entre eles, Roger Bastide, que se destaca nos estudos de Sociologia da Religião. Será ele o primeiro sociólogo a se interessar pelos cultos afro-brasileiros, escrevendo, entre outros, As Religiões Africanas no Brasil e O Candomblé da Bahia, em que também é feito referência a Nina Rodrigues como pioneiro no estudo da sobrevivência religiosa africana no Brasil.



Podemos afirmar que muitos já ouviram falar da obra de Nina Rodrigues por meio de outros autores, ilustres, o que gera até uma certa curiosidade e aura em torno deste autor, que não deixa a desejar pela profundidade e clareza no discurso.



O material colhido por Nina Rodrigues também serviu para fundamentar o Candomblé como religião.



Hoje os estudos de religião e do que é religião seguem com uma visão mais ampla e inclusiva, na qual foram fundamentais as colaborações de:



Max Müller (1823–1900), fundador da disciplina História das Religiões e pioneiro no estudo comparado das religiões e de Ciência da Religião;



Rudolf Otto (1869–1937), com o estudo do termo Numinoso, ou seja, o Sobrenatural Sagrado;



Émile Durkheim (1858–1917), distinção do Sagrado e do Profano;



Mircea Eliade (1907 –1986), com seu estudo de “História Comparada das Religiões” e suas “Hierofanias”, elementos que compõem o sagrado.



Muitos outros colaboraram nesse sentido, o que importa é que hoje vamos degustar a obra de Nina Rodrigues com muito mais sabor, pois com todos os recursos e tecnologia de que dispomos, aprendemos a dar muito mais valor a quem nada tinha nesse sentido, mas que foi muito mais longe em seus estudos, fruto de dedicação, determinação, e claro, do encanto que a cultura africana exerce.



Muito mais do que dar os parabéns à Madras Editora, na pessoa de seu Presidente Wagner Veneziani Costa, pela publicação desta obra rara, aproveito para agradecer a enorme quantidade e qualidade de títulos afro-brasileiros, em geral, e Umbanda, em específico.

Alexandre Cumino

Presidente do Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca, Sacerdote de Umbanda, Ministrante dos cursos livres de “Teologia de Umbanda Sagrada” e “Sacerdócio de Umbanda Sagrada”, Editor do Jornal de Umbanda Sagrada e Estudante de Ciências da Religião (Faculdade Claretiano).

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