QUANDO REALIZAR UM BORI
POR: Vagner DOsun;
O
Bori é um ato feito apenas dentro do Candomblé. Há pessoas que cuidam
da cabeça de forma diferente, mas o mesmo não tem e não deve ser
confundido com Bori. A determinação de se fazer um Bori a uma pessoa é
feita através do jogo de buzios. O zelador em questão, devido às quedas do jogo, verifica o pedido de Orí na necessidade de ser agradado.
O ato de Bori pode ser feito a qualquer pessoa,
iniciada ou não dentro do Axé. O Bori serve como uma forma de ajuda a
pessoa numa determinada fase de sua vida. É bem verdade que, seria
interessante que fosse feito esse ato uma vez ao ano. Dessa forma
daríamos força a nossa cabeça, ou até mesmo, a mantermos forte para que
possamos continuar bem.
As
pessoas que por acaso forem avisadas sobre a necessidade de ser dar de
comer a cabeça (Orí), e por algum motivo não quiserem fazê-lo, de nada
devem sofrer, nem mesmo de ameaças como fazem algumas pessoas e não
zeladores. Deve-se ser sempre respeitada a vontade da pessoa.
Orí escolhe o zelador de sua confiança. Escolhe o mesmo pelo seu conhecimento, cuidado, zelo e prestígio por fazer as coisas de forma certa junto aos Orixás.
Gostaria de esclarecer que, indjé (sangue) tem várias cores, e que Orí pode receber de bom grado qualquer um deles.
As Cores do Sangue
O Sangue Branco, Vermelho e Preto
Há
Axé contido numa grande variedade de elementos representativos do reino
animal, vegetal e mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), quer
venha da terra, da floresta, do “mato”, ou do espaço urbano. O axé é
contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou
não, simples ou complexos, que compõem o mundo. Os elementos portadores
de axé podem ser compreendidos em três categorias:
Sangue Vermelho Compreende
O do reino animal : corrimento menstrual, sangue animal;
O do reino vegetal : o
epô (azeite de dendê), o Osùn (pó vermelho extraído do Perocarpus
Erinacesses -Abraham, 1958: 490), o mel (sangue das flores);
O do reino mineral : cobre,
bronze etc. Veremos mais adiante que o amarelo é uma variedade do
vermelho, assim como o azul e o verde são variedades do preto.
Sangue Branco Compreende
O do reino animal : o sêmen, a saliva, o hálito, as secreções, o plasmo (particularmente o do ígbín (caracol)) etc.
O do reino vegetal : a
seiva, o sumo, o álcool e as bebidas brancas extraídas das palmeiras e
de alguns vegetais, o Ìyèrosùn (pó esbranquiçado extraído do ìròsùn
(Eucleptes Franciscana F) (Abrahan 316)), o Orí (manteiga vegetal
(shea-butter)) etc:
O do reino mineral : sais, giz, prata, chumbo etc.
Sangue Preto Compreende
O do reino animal : cinzas de animais.
O do reino vegetal : o
sumo escuro de certos vegetais; o ìlú (índigo, extraído de diferentes
tipos de árvores (Abraham 187)), e uma preparação á base de ìlú, pó azul
escuro chamado wáji.
O reino mineral : carvão, ferro etc.
Por
extensão, existem lugares, objetos ou partes do corpo impregnado de
axé: o coração, o fígado, os pulmões, os órgãos genitais, as raízes, as
folhas, o leito dos rios, pedras, e outros que correspondem, de uma
maneira bem definida, a alguma das três cores mencionadas: os dentes, os
ossos, o marfim etc.
Sendo
o Axé uma força que permite tudo ser como é, e terem elas a existência,
podemos concluir que tudo o que existe, para poder realizar-se, deve
receber Axé.
Há
três categorias de elementos do branco, vermelho e do preto que, em
combinação particulares, conferem significado funcional ás unidades que
compõem o sistema.
Receber
Axé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os
princípios vitais e essenciais de tudo o que existe, uma particular
combinação que individualiza e permite uma significação determinada.
Trata-se de incorporar tudo o que constitui o Aiyé (terra) e o Orun
(céu).
Cada
ano litúrgico começa no terreiro pelo ciclo das águas de Ósàlá. A lama,
a terra como elemento, é a matéria fecunda e está associada a vários
Òrìsà. Princípios progenitores femininos, particularmente Odúduwá.
Enquanto
Òsàlà está associado á água e ao ar, Odúduwá está associada á água e a
terra. Lembremos que a água e o ar pertencem aos elementos - signos do
sangue branco do Axé e que a terra é por excelência, condutora do sangue
vermelho e do sangue preto do Axé.
Todos
os metais amarelos pertencem a Òsún – o ouro e principalmente o bronze –
metais com que são manufaturados seus braceletes e o abebê.
O
axé vermelho genérico é representado pelo sangue humano e animal, pelo
epô, o òsú, sangue vegetal, e pelos metais vermelhos amarelos. È
igualmente representado, particularmente, pelo mel, sangue das flores,
doçura e quinta-essência do bom, o Axé Rere só comparável ao leite
materno.
As
penas de ekódide pertencem ao vermelho, e representam o poder e o axé
de Ósun-Olóri-Eléye (chefe supremo dos possuidores de pássaros). Porém
elas não simbolizam o vermelho genérico, mas – como os cauris para o
branco – representam fragmentos do vermelho, seres individualizados, o
elemento procriado.
Igbá
Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos
em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí.
Costuma-se
fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí
de uma pessoa. Esta variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que
individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais,
ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo
daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o
mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como Igbá- Orí, ou
seja, a representação física do Orí-inú da pessoa.
Ori-Inu Essa parte é também conhecida como O olho espiritual;
Axé a todos!!!!
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