Branco para protestar. Na manhã de ontem, militantes em favor da liberdade religiosa e adeptos dos cultos de matriz africana usaram a cor de Oxalá não apenas nos trajes. Vestiram uma parte da cidade, da Praça da Sé à Lagoa do Abaeté, com os tecidos brancos utilizados nos rituais de candomblé, os ojás (colocados em locais sagrados). O objetivo foi exigir respeito e combater a intolerância religiosa, não apenas na cidade, mas em todo o Brasil. Por volta das 9h, o Coletivo de Entidades Negras (Cenbrasil) começou a Alvorada dos Ojás na Praça Municipal, junto à cajazeira centenária que fica ao lado do Memorial das Baianas e ao monumento da Cruz Caída, de Mário Cravo Júnior.
O grupo realizou um ato litúrgico no local. Baianas dançaram e músicos tocaram instrumentos usados nos rituais. "Viemos fazer um pedido aos nossos ancestrais, de força para resistir e lutar pela liberdade de religião", explicou Marcos Rezende, coordenador do Cenbrasil, conselheiro da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos e ogã do Terreiro Ilê Axé Oxumaré.
Também foi lido manifesto contra a intolerância e pela liberdade de culto, assinado por representantes de mais de mil terreiros de Salvador e outros 40 municípios baianos. O documento relembra o caso de Mãe Gilda. A demolição do Terreiro Oyá Unipó Neto, no bairro do Imbuí, em fevereiro, foi outro caso de agressão ao povo-de-santo citado pelo manifesto.
Marcos Rezende, que fez greve de fome em protesto quando o terreiro foi demolido, disse que este tipo de ataque precisa ser combatido não apenas na época de eleição: "Agora todo mundo fala em respeitar as diferenças entre as religiões, mas, quando a disputa por votos acaba, esquecem das promessas. O mapeamento dos terreiros de candomblé, por exemplo, deveria ser acompanhado da regularização fundiária dos locais, prometida pela prefeitura em regime de urgência. Até hoje o projeto está parado na Câmara de Vereadores", comentou.
O manifesto trata também de assuntos de outros estados. No Rio Grande do Sul, há a discussão de uma lei em defesa dos animais que, segundo o coletivo, inviabilizaria a liturgia dos cultos afro-brasileiros. Em São Paulo, um terreiro com mais de 25 anos foi lacrado pela prefeitura sob a alegação de mudança de zoneamento urbano e de que o barulho dos atabaques incomoda a vizinhança. No Rio de Janeiro, uma mulher adepta de cultos africanos chegou a perder a guarda do filho, porque a presença de imagens religiosas afetaria o desenvolvimento da criança.
A Alvorada dos Ajós também marcou o lançamento da quarta Caminhada Pela Vida e Liberdade Religiosa, que será realizada em 23 de novembro, saindo do Engenho Velho da Federação e indo até o Dique do Tororó.
FONTE:Jornal A TARDE
20/09/2008|
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